12/05/2020
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O papel fundamental do "padre de rua" em São Paulo, Brasil, onde as pessoas ainda se aglomeram para o transporte público. São justamente os padres que desempenham um papel fundamental no acolhimento, informação, sensibilização, ajuda aos pobres, às categorias menos protegidas, aos habitantes das favelas da maior megalópole da América do Sul, desde a chegada do coronavírus no continente que se tornou a "capital" latino-americana do Covid-19. Quem trabalha com os pobres tem apenas uma preocupação: que o contágio não chegue aos abrigos.

 

Eles estão fazendo a verdadeira "força tarefa": em uma São Paulo onde, apesar das diversas proclamações políticas, as pessoas ainda se aglomeram no transporte público, os "padres de rua" têm um papel fundamental no acolhimento, na informação, na conscientização, na ajuda às pessoas de rua, aos pobres, às categorias menos protegidas, aos habitantes das favelas da maior megalópole da América do Sul, desde a chegada do coronavírus no continente que se tornou a "capital" latino-americana do Covid-19. Em São Paulo, de fato, ocorreram os primeiros casos de contágio e aqui foram as primeiras vítimas. Ainda hoje, numa época em que o vírus se espalhou para muitas outras regiões do país (Nordeste e, em particular, Pernambuco e Manaus, na Amazônia), as estatísticas oficiais dizem que no Estado de São Paulo há cerca de 1.700 vítimas de 4.300 em todo o país e cerca de um terço dos 63.000 casos de contágio totais do país. Mas São Paulo também é foco de controvérsia política entre o governador João Doria e o presidente da República Jair Bolsonaro, que insiste em minimizar a extensão da pandemia e nos últimos dias demitiu o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, defensor ao invés de uma política restritiva.

 

Com a Missão de Belém, um prédio inteiro para receber pessoas das ruas.

Neste contexto, quem trabalha com os pobres tem apenas uma preocupação: que o contágio não chegue aos abrigos, nem às favelas populosas.

"Seria uma catástrofe", disse a Sir o Padre GiampietroCarraro, veneziano de origem e fundador da Missão de Belém, através da qual deu vida a 170 abrigos em todo o mundo, 140 só na imensa São Paulo, 60 na área central da cidade.

"Ao todo, estamos hospedando 2.200 pessoas e 700 já estão doentes, queremos de todas as maneiras evitar que o vírus chegue a eles".

Nas últimas semanas, a Missão Belém abriu um centro para receber pessoas de rua e mantê-las isoladas em um prédio de dez andares fornecido pela arquidiocese.

Uma enfermaria com 72 leitos e cinco médicos voluntários também foi montada lá. Um serviço valioso, numa época em que as autoridades tinham decidido fechar um abrigo perto da chamada Cracolândia, "a terra do crack", uma espécie de "buraco negro" no centro de São Paulo, algumas centenas de metros quadrados que se tornaram o reino dos traficantes de drogas. Padre Carraro continua:

"Os números fornecidos pelas autoridades não são verdadeiros, os números são pelo menos quatro vezes mais altos, temos alguns médicos que trabalham em hospitais e confirmam isso. Além disso, muito poucos testes são feitos, apenas para aqueles que têm sintomas significativos, para aqueles que são levados à terapia intensiva. As outras pessoas que vão para o hospital geralmente são mandadas para casa. Há pessoas que morrem, mas ninguém as diagnosticou com Covid-19".

 

Nenhuma precaução no inferno da Cracolândia.

É difícil, portanto, entender se e até onde o vírus atinge as pessoas que vivem nas ruas e nas áreas mais degradadas. A rua - continua Padre Carraro - não é aquele lugar 'poético' que alguém gostaria de pintar, aqui é sinônimo de álcool e drogas".

NaCracolândia não há prevenção de contágio, há álcool e drogas, ninguém tem máscaras, pode até haver 500 pessoas que usam 'crack' juntas.

Se um deles está no chão, não é possível saber se tem a ver com o vírus.

O padre expressa preocupação com o serviço de saúde como um todo, "embora em São Paulo existam os melhores hospitais da América Latina". Havia 700 leitos em terapia intensiva, eles criaram pavilhões em duas etapas, para outros dois mil lugares do que podemos chamar de terapia intensiva 'leve'. Dois mil respiradores podem parecer muito, mas é preciso lembrar que São Paulo tem 14 milhões de habitantes, com a região metropolitana você pode chegar a 35 ou 26 milhões.

 

O pároco da favela de Paraisópolis.

DaCracolândia, passamos para as favelas e em especial para uma das maiores de São Paulo, Paraisópolis, 98 mil habitantes aproximadamente, onde Padre Luciano Borges, sacerdote com grande entusiasmo e carga emocional, é pároco: "Estamos muito preocupados - ele nos conta com emoção lembrando o período passado na Itália e a situação atual do nosso país -,Bolsonaro cometeu um erro, disse às pessoas para irem trabalhar, pensou na economia, seguiu a contramão.

Aqui a população não entendia a importância de ficar em casa, de não se sair. Felizmente, até agora não tem havido muitos casos de Covid-19, mas é um vírus muito perigoso para o nosso povo. Se o contágio se espalhasse por aqui, nós não saberíamos o que fazer. Aqui não há hospital ou centro médico". Uma dúzia ou mais de contágios, na verdade já houve, e se prepara para o pior.

Afinal, é difícil "ficar" em casa em um lugar de incrível densidade populacional, com barracos de metal e casas desmoronadas empilhadas umas em cima das outras. "Aqui o governo nunca interveio, nunca fez nada e mesmo neste momento continua sem fazer nada - continua Padre Luciano -.

Há falta de infra-estrutura, esgotos, banheiros, as pessoas estão sofrendo e doentes, há problemas de segurança e drogas".

Assim, nas favelas, paradoxalmente, além de algumas tentativas louváveis de auto-organização, há apenas dois atores nas favelas que fazem algo para manter a ordem e alguma atenção:ou os grupos de traficantes de drogas, ou a Igreja.

Como em Paraisópolis, onde, explica o Padre Borges, "na paróquia de São José nos organizamos para distribuir sacolas de alimentos e produtos de limpeza e higiene pessoal". E depois tentamos fazer um trabalho de informação e conscientização, assim como o aspecto pastoral. Nós difundimos a missa via Facebook e eu passei com o Santíssimo Sacramento, de carro, nas ruas da favela, para abençoar o povo". Conclui o sacerdote: "Rezei e também rezamos pela Itália, vivi na Toscana e pedi a Nossa Senhora de Aparecida que protegesse o vosso povo”.

FUENTE: Agenzia Sir (Bruno Desidera).

Original em italiano https://www.agensir.it/mondo/2020/04/27/contro-la-pandemia-a-san-paolo-del-brasile-la-vera-task-force-e-quella-dei-preti-di-strada/